sábado, 8 de março de 2014

...e assim caminha nosso hipócrita Underground


por Leko Soares

Toda ação de repúdio se motiva por uma causa, aquele acontecimento limite que nos acostumamos a chamar de “a gota d’água”.  Antes, porém, vem o fluxo, a enxurrada, a torneira que enche o copo e a tal gota é só o que o faz transbordar.

Me lembro bem quando o Edu Falaschi, na época vocalista do Angra, aproveitou de sua força de exposição para dizer aquilo que muitos membros das bandas nacionais adorariam ter dito, mas nenhum teve coragem suficiente para fazê-lo (ou projeção suficiente para ser ouvido). A sucessão de escrachos, discursos indignados e julgamentos que se seguiram foram dignos de um “espetáculo” de apedrejamento em praça pública, desses que ocorrem com certa frequência em um país fundamentalista qualquer.
Entretanto, analisando o episódio e seus desdobramentos já com um certo distanciamento do ocorrido, a verdade é que as questões levantadas pelo vocalista em um momento de total indignação tocou na ferida de muitos dos chamados “headbangers” do cenário Underground nacional. Muita gente se indignou com a maneira como o Falaschi falou abertamente sobre os problemas da nossa cena, usando termos como “chupa-rola de gringo”, dentre outros tão carinhosos quanto. Fato é, que, muito dessa indignação exacerbada no fundo justifica e amplifica aquela velha expressão que diz: “se a carapuça serviu....”

E serviu para muita gente. Desde músicos, promotores, gente da imprensa e em especial uma nova raça que se desenvolveu nos últimos anos e vem se proliferando com frequência: os chamados “ratos de internet”. Sim, estou me referindo aquele moleque babão (às vezes nem tão moleque assim), que adora ficar o dia todo sentado atrás de um computador, conectado a algum chat criticando bandas, músicos, o próprio site e tudo o que não fizer parte do seu pseudo “padrão de qualidade”. Aí sempre tem alguém que vai levantar a bola e dizer: “Todo mundo tem o direito de expressar sua opinião sobre qualquer assunto e blablabla”. É verdade, mas a ironia da história é que esse mesmo moleque babão (às vezes nem tão babão assim) que não compra CDs, não vai em shows e atira para todos os lados, é sempre o primeiro a criticar a cena e se justifica dizendo que não vai aos eventos porque “são amadores demais” ou que não compra CDs de bandas nacionais porque “a produção não é igual a das bandas gringas” (o que em geral, é uma grande mentira). Mal sabe ele, que a grande culpa por esse amadorismo na estrutura e organização dos eventos ou mesmo a suposta falta de qualidade de produção das bandas nacionais nasce exatamente da falta de apoio do pseudo “banger” à cena. É essa falta de apoio e pior, a quase militância desses indivíduos contra o real cenário underground no Brasil que mina as bases de qualquer movimento que possa existir por aqui. É evidente que amadorismo e falta de qualidade muitas vezes tem origens em si próprio, na nossa questão cultural, no jeitinho brasileiro e na falta de talento de algumas bandas, mas, analisando de uma maneira mais ampla, é óbvio que o pseudo banger, rato de internet é o maior câncer da nossa cena.

Mas e a gota d’água do início do texto, aquela que me motivou a escrever sobre tudo isso, onde fica?

Já ouviram aquela expressão: “desgraça pouca é bobagem”? Pois bem, não bastasse esses pseudo “bangers” minarem o Underground dia após dia, seja por seu voraz senso crítico (comparável ao de uma lhama), seja por sua inércia em relação a qualquer tipo de contribuição real à cena, a verdade é que não satisfeitos, esses parasitas hoje se infiltram na chamada imprensa underground, que sim, é muito séria e engajada, mas começa a correr riscos em relação à sua credibilidade, caso esse “câncer” continue se infiltrando entre os SÉRIOS, seja criando blogs, participando de pseudo assessorias, escrevendo resenhas sem o mínimo conhecimento de causa ou COBRANDO (isso mesmo) para resenhar álbuns em seus sites. E assim finalmente chegamos à gota d’água que transbordou a minha indignação e vontade de desabafar sobre esse grande mal que enfraquece e suga as últimas forças de uma cena já tão debilitada. Como pode um site cobrar por resenhas? E vou além, como um site que cobra por resenhas pode garantir imparcialidade? Pois é, não pode!

E no fim, a falta de apoio às bandas nacionais, o amadorismo das produtoras de eventos, a parcialidade de boa parte da imprensa e a infiltração dos “ratos de internet” em todos os setores da cena podem ser apontadas, sim, como causas que impedem o crescimento da cena.
É lógico que sempre vão ter as bandas “Alice”, que preferem fingir que vivem em um Underground de maravilhas, bradando não terem problemas nenhum com a cena, já que seus shows “estão sempre lotados”e seus “CDs vendem muito”, e assim remam contra a maré e não reconhecem (pelo menos publicamente) o óbvio: que infelizmente mesmo os nossos “rock estrelas” fajutos estão no mesmo barco de todas as outras bandas e negar isso só vai contribuir para a perpetuação dos problemas.


Por fim, a única constatação que fica é que a nossa cena está enferma faz tempo e a realidade é que o único remédio para começar a consertar tudo isso, meu companheiro, É VOCÊ!